domingo, 23 de fevereiro de 2014

Eu Amo Teatro

                    Por: Atriz Tha Lopes

"Sei que além das cortinas são palcos azuis
E infinitas cortinas com palcos atrás
Arranca, vida - estufa, veia
E pulsa, pulsa, pulsa, pulsa, pulsa mais"
Chico Buarque


Eu nasci para o palco - (esse lugar onde tudo se multiplica). - minhas brincadeiras infantis eram teatrinhos de cenas curtas, com cenário-figurino-e-maquiagem -, onde eu me apresentava com minhas primas naquelas famosas festas de família e, também nos carnavais.
Essa paixão era tão forte que quando completei meu dez anos - no ano de 1993 - peguei a antiga lista telefônica e procurei por um bom curso de teatro em Santos, onde morava na época. Achei a antiga Galeria Santista de Arte, e pedi para minha mãe fazer a minha matrícula o quanto antes.
Ao entrar nesse "palco" eu soube que seria um caminho sem volta porque Teatro é um caso de amor infinito. No palco somos uma folha em branco que se transforma em qualquer coisa. Somos todos e não somos ninguém. Os personagens se revelam na pele e a alma parece se ausentar para apreciar a transformação. Simplesmente acontece.
Ainda no mesmo ano, comecei minha carreira no teatro amador da cidade com a peça infantil “O mistério do Cofre” - em seguida fui chamada a participar de um teste para o espetáculo infantil “Spray Doidão” - com essa peça eu percorri o país com minha trupe teatral em plena infância.
Muitas outras montagens se sucederam, mas foi com a adaptação de “A Megera domada” de William Skakespeare, no papel da protagonista “Catarina” - aos 14 anos - que conheci meus primeiros prêmios. Em 1998 fui premiada como atriz revelação no FESTA - e melhor atriz no Festival SESI Coca-cola de teatro.
Neste momento eu tinha ainda mais certeza de que o meu sonho que estava apenas começando - em 1999 mudei para São Paulo onde tive diversas oportunidade interessantes na TV, mas o teatro seguia sendo o meu grande amor e foi pra ele que voltei no ano 2000 - com então dezoito anos - entrei para o CPT (Centro de Pesquisa Teatral) do Diretor Antunes Filho - lá tive a oportunidade de ensaiar ao lado das grandes atrizes como: Juliana Galdino e Arieta Corrêa na peça “O jardim das Cerejeiras” e “Prometeu” no papel da IO.
Lamentavelmente, Antunes desistiu de estrear estas montagens - mas foi um grande aprendizado porque hoje sei muito sobre a arte do ator e sobre a arte da vida. Nunca vou me esquecer dos ensinamentos do grande Antunes. Um verdadeiro mestre dos palcos que fez com que eu dividisse minha carreira de atriz em antes e depois de Antunes Filho.
Os nossos grandes atores passaram pelo palco - levaram multidões a platéia - e, deixaram para trás a si mesmo para levar ao outro aquele ser que surge quando a maquiagem começa a desenhar um alguém novo. Ali mesmo, na frente do espelho. Naquele canto de solidão tão necessário. E lançar um último olhar para si mesmo e dizer "adeus" ao que somos para dar as boas vindas a esse ser que se apodera das nossas vísceras.
Há toda uma nova geração de atores que parece recusar o teatro - talvez porque os palcos não brindem o ator com tanto brilho, glamour e, o que o palco nos oferece pode ser pouco para eles. Afinal, o teatro nos brinda com um público vivo - sentindo a nossa energia em cena - a nossa metamorfose. É uma doação plena, tanto de quem interpreta e convence quanto de quem assiste e se deixa convencer.
A televisão tem maior alcance, mas veja esses novos atores em cena, são mecânicos e se valem apenas de suas imagens - são atores - e, eu entendo porque alguns deles dizem não gostar de teatro. Porque na verdade, o palco não os querem, porque o tablado é um lugar sagrado. O olhar não está longe, alheio - está logo ali - podemos tropeçar nele. Com certeza não é fácil, mas quando ultrapassamos a barreira do incomodo - é simplesmente sensacional...
Eu sou vida e vida posso transformar quando nos palcos estou a pisar. Sim Teatro!
Pra sempre vou te amar.